Por um acaso do destino, caiu no meu colo o livro Minha Vida de Stripper, da autora Diablo Cody. Você deve conhecê-la do filme Juno, já que foi ela quem escreveu o roteiro e ganhou um Oscar por isso!
Conforme fui lendo, me identifiquei com os sentimentos da autora, que estava se sentindo meio estagnada na vida. E com isso, ela decidiu abandonar o emprego de redatora publicitária para começar o projeto de se tornar uma stripper profissional. Sim, isso foi de zero a 100 muito rápido!
A grande mudança para Minneapolis tinha provocado uma espécie de azia psicológica, e eu sentia como se me tivessem oferecido uma última oportunidade de fazer uma loucura sem ter que lidar com as consequências da vida adulta. Eu disse ‘última’ porque sempre fui um ser humano do sexo feminino bem-comportado.
Logo eu, que estava uma leitora lenta, desatenta e – devo confessar… – meio que sem vontade de viver.
Pausa!
Isso não é um texto triste, prometo!
Uma, porque, na verdade, este é um texto sobre a noite mais maluca da minha vida, e que talvez eu nunca tenha superado.
Se eu contar que foi uma noite de um dia útil em que fui parar em um local de “diversão noturna”, vou conseguir sua atenção? E se eu falar que era um lugar onde as pessoas ficam peladas? E olha que eu não estou falando sobre o vestiário de uma academia, se é que você me entende.
Pronto, você continua aqui, certo? Então, vamos lá!
Sabe aquele momento em que sua vida é apenas uma grande linha reta? A rotina está ali, já instalada perfeitamente. Nada de novo acontece. Tudo é uma grande repetição de dias.
Diablo Cody escreve sobre isso muito bem:
Recebi cada um dos sacramentos católicos, com exceção do matrimônio e da extrema-unção. Terminei a faculdade em oito semestres certinho (com uma crise nervosa em cada um). Nunca joguei bebida na cara de alguém no meio de um porre. Nunca furtei um batom numa loja bacana. Eu era um saco, queridos. Podia sentir meu fogo apagando. Minha crise dos 25 anos pesou no meu estômago como um cheeseburger duplo. Acho que essa é uma das razões para eu ter acabado seminua numa boate como o Skyway Lounge.
Eu não sei você, mas isso me deixa inquieta e me coloca diretamente num grande sentimento de tédio. O que é bem perigoso, pois isso me faz buscar “aventuras”. Eu tinha acabado de completar 31 anos e achava que não tinha vivido coisas novas o suficiente.
Numa dessas, eu resolvi que precisava ter novas experiências na vida. E falei isso meio que para o universo (se você for místico) ou apenas falei isso quando me reencontrei com um amigo do ensino médio que eu não via há mais de uma década (caso você não seja místico).
Esse reencontro me mostrou que o amigo da adolescência, agora já adulto e com mais de 30 anos, continuava completamente alucinado das ideias. É isto! A receita perfeita estava pronta. Eu queria novas experiências e reencontrei alguém com total ausência de julgamento moral. Claramente, ele não ia me levar para ter novas experiências em um retiro de meditação.
Então fui parar num “puteiro”. Eu não sei muito bem como escrever isso de uma forma “politicamente correta”. E olha que tentei buscar sinônimos (de amor é amar) para isso. Tanto que, no começo deste texto, usei o termo “lugar de diversão noturna”. Mas descobri alguns outros termos curiosos que também podem ser usados:
• Casa de tolerância (isso, confesso, me pegou — eu não consigo pensar em como o termo “puteiro” se torna “casa de tolerância”);
• Bordel/Prostíbulo/Cabaré (termos que já são meio óbvios);
Mas apareceu também a palavra “ressaca”. Assim, eu adoro quando descubro algo muito criativo, como utilizar a palavra “ressaca” para se referir a um recinto como um “puteiro”.
Talvez porque envolve bebida e a pessoa fica de ressaca no dia seguinte. Ou talvez seja aquela noite de sexo bem estranha, em que no outro dia você acorda com uma “ressaca moral”?
Mas se você já escutou o episódio, sabe que também podemos nos referir a esse estabelecimento como um “ambiente familiar”.
Enfim, o episódio dessa semana é sobre a noite em que eu fui parar, pela primeira vez, numa “casa de tolerância” aka puteiro. Se está querendo saber o que rolou, e como tudo rolou, escute o episódio!
E ainda lembrei que, durante a noite, uma amiga ali me falou uma frase que me fez pensar: 'A vida não tem replay'.
Eu só pude concordar, claro!
Posso falar, agora aos 41 anos, que a vida está aí para ser vivida. Sei que parece clichê, mas é isso. Claro que não estou mandando você ir para um puteiro viver a vida. Se quiser, até pode! Seja livre. Mas é que eu estava nisso de achar que precisava “viver” e sentir coisas novas.
Posso ser romântica aqui e dizer que hoje entendo que “viver a vida” pode ser até mesmo ficar de boa lendo um livro.
Tudo isso é o começo de um projeto de podcast. E você pode fazer parte dele apenas escutando-o! Eu realmente espero que você curta esse primeiro episódio do meu podcast Estou Ouvindo Vozes?. Na próxima, eu vou falar um pouco sobre isso de “começar projetos” (spoiler aí).