Oi, W.!
Espero que você esteja bem <3
Meu querido, queria muito comentar sobre sua viagem para Londres, pois foi o tema da sua última carta para mim. Me senti muito inserida na sua viagem, mas parece que isso já foi em outra vida. Você também tem essa sensação? E nesse tempo em que eu fiquei dentro de algum bloqueio para te responder, você já viveu muitas outras aventuras incríveis por aí. Tem até projeto que ganhou vida e está caminhando lindamente.
Então vou responder do jeito que eu já comecei, e vamos seguindo assim, amigo. Pois senão, eu entro no tema de achar que a vida está indo muito rápido e eu não estou conseguindo acompanhar. (risos de nervoso)
Pois agora eu já quero falar até sobre a sua última carta1, já que estamos meio que vivendo dentro dos mesmos sentimentos. Mas isso fica para uma próxima.
Também queria falar (algo que você já sabe e já faz tempo isso): você CASOU! Sei que foi uma oficialização burocrática, pois você já é um senhor casado faz alguns anos. Mas achei muito bonito o carinho e amor que vocês receberam nesse dia. Eu realmente desejo muito amor, felicidades e companheirismo para você e M.
E todo esse seu relato me fez voltar um pouco no tempo, com isso comentei com você que um dos dias mais felizes da minha vida foi o dia do casamento de um casal de amigos. Foi em Itu, e lembro que eu realmente sentia o carinho e o amor que estavam no ar. Me fez sentir tão bem e feliz de fazer parte daquele momento, de pessoas que eu amo tanto, que certamente, se eu pudesse voltar para esse dia, eu voltaria. Pois acho que nunca mais me senti tão genuinamente feliz. Claro que tanto eu quanto você, sabemos que se eu voltasse para esse dia, não seria a mesma coisa. Como diria Charlotte em Encontros e Desencontros:
Let's never come here again, 'cause it would never be as much fun.
Nunca mais voltemos aqui, porque nunca mais seria tão divertido.

Essa foto acima, eu achei no dia do casamento que estava fazendo um vídeo, e na real eu estava era tirando milhões de fotos. É sempre engraçado passar por isso na galeria de fotos do celular.
E sim, meu querido, a vida é frustrante algumas vezes, mas como você escreveu2, a vida tem suas frestas de luz, mesmo num apagão. E eu te digo, reconhecer essas “frestas” não é para todos, pois requer um olhar atento, otimista e quase desesperador.
O lance é que eu comecei uma carta para você, um tempão atrás. Está aqui nos rascunhos, mas não conseguiria te mandar, me sentiria uma impostora, pois já não condiz com o que eu sinto. Essa carta aqui, eu também tinha começado faz um tempo, eu ia ficar falando sobre São Paulo, mas decidi mudar a rota e falar sobre Ilhabela, que se tornou um dos meus lugares favoritos.
Peguei férias e fiquei pensando em que lugar ir para fugir uns dias de São Paulo. Sempre escolho praia, pois gosto muito de estar perto do mar, e como ia viajar sozinha comecei a pensar nas questões de segurança, praticidade e estratégias.
E eu estava precisando descansar, e, por estar fazendo uma viagem sozinha, também queria deixar minha ansiedade com o lugar mais silenciada. Para isso, eu sabia que tinha que ir para algum local que eu já tivesse uma certa familiaridade e que já reconhecia muita coisa. Então foi fácil demais decidir voltar pela quarta vez para Ilhabela.


Primeiro que eu estava indo viajar para a praia fora de temporada, em uma quarta-feira útil, numa semana que São Paulo já estava mais fria. Eu adoro sentir a mudança de “humor” da rodoviária em dias assim. É tudo mais silencioso, meio vazio com um clima mais corporativo e não de férias. Imagino as pessoas viajando a negócios e não a passeio. O que é o total oposto de quando você viaja, tipo em Dezembro, em que a rodoviária é cheia, as malas são coloridas e as pessoas são muito barulhentas e felizes.
Viajar num dia útil assim, no meio do mês de maio, também me deu a experiência (novamente) de embarcar num ônibus apenas com senhoras da terceira idade. E por muitos momentos da viagem, fui resgatada de muitos devaneios, para ouvir a conversa dessas mulheres com o motorista do ônibus, que sem muita paciência, tentava entender onde elas queriam desembarcar.
E quando embarquei na balsa em São Sebastião em direção a Ilhabela, a sensação era que estava indo para o lugar certo.



Quando cheguei na casa fui recepcionada logo de cara pelo Nino. Eu tomei um baita susto, pois ao abrir o portão da casa, que era todo fechado e de madeira, senti algo pular em mim, quando olho, vejo que é um gato lindo e grande. Depois de me recuperar do susto, viramos amigos ali mesmo. Nino ficou comigo do momento que eu cheguei, até o momento que eu fui dormir. Era um gato muito safado e gostoso.
Dessa vez, eu aluguei um chalé numa casa bem grande. Na real eu não tinha visto antes foto da casa inteira, e quando cheguei, isso foi uma surpresa também. A casa era imensa e dividida por muitos “Airbnbs” separados. E eu escolhi esse local, pois o quintal da casa dava para uma praia. E como estava sozinha e a pé, eu não queria ficar tendo que pensar muito na logística de como chegar em alguma praia. Eu gosto muito de caminhar, mas eu estava precisando ficar mais de boa e descansada, pois fui para a Ilha me sentindo esgotada mentalmente, precisava muito embarcar na simplicidade.



Era a quarta vez que fui para Ilhabela, e todas as vezes que vou, fico em alguma parte diferente da ilha, mas estava sempre acostumada a ficar no lado sul da ilha, e pela primeira vez eu fiquei no lado norte. Eu brinquei com um amigo falando que eu me sentia na ilha da série Lost, onde sempre descobriam uma parte nova da ilha, pois eu estava numa parte totalmente nova e desconhecida para mim. O que inicialmente me causou um certo desconforto, confesso. Fiquei um pouco insegura de andar por lá, mas isso só durou o primeiro dia, no restante eu comecei a desbravar mais esse lado.
A praia que era o “quintal” da casa, tinha muitas pedras, o que me deixou muito impressionada o tempo todo. Quando eu descrevia para alguém, eu ficava repetindo que era uma praia de pedras. E repetia muito a palavra “pedras” (risos), até que eu me senti repetitiva e busquei “sinônimos”, e falava que era uma praia com “pedregulhos” ou “rochas vulcânicas”. Tentei me colocar em uma das fotos, para passar a dimensão dos tamanhos das pedras.



Eu cheguei quarta-feira à tarde e só na sexta-feira eu fiquei com vontade de conhecer a pé outras praias. O pessoal do Airbnb me deu dicas de algumas praias para conhecer, eu optei por conhecer as que eu conseguia acessar a pé. Foi o dia em que eu mais andei por lá. Conheci a Praia Grande, que novamente me surpreendeu por ser uma praia com mais rochas vulcânicas aka pedras. Acessei uma outra praia que se chamava Praia do Julião, que você acessa por uma trilha muito curtinha. Foi engraçado, pois quando cheguei dei de cara com uma praia muito pequena, com uma imensa fileira de guarda-sóis da mesma cor e silenciosa. Parecia que eu estava numa praia particular, me senti como se estivesse visitando a praia do Luciano Huck.
Os registros fotográficos não estão muito bons, me perdoa. Mas é que pela primeira vez na ilha, eu não tive vontade de fazer registros de nenhuma forma. Confesso que nem no celular eu fiquei muito. Eu só lembrei de fazer fotos na quinta-feira, quase um dia depois da minha chegada, pois um amigo pediu para eu mandar fotos do local que eu estava hospedada. O que eu senti com esse meu “recolhimento” é que parecia que era uns dias só meus e da ilha, sem precisar ter mais coisas ou pessoas envolvidas. E sim, talvez eu esteja projetando algo muito maior nessa ilha, mas no momento, estou bem com isso.



A verdade é que eu me sinto sem muito ter um lugar no mundo, sabe. Isso é sempre um tema da terapia, mesmo a gente não falando com todas as letras sobre isso. Eu sei que está lá, sempre permeando as nossas conversas. Sobre pertencimento, sobre sentir onde estou. Mas Ilhabela sempre me entrega o sentimento de estar no lugar certo. Com isso, eu precisava reter algo da ilha comigo. Foi simbólico para mim, pois eu trouxe três pedrinhas que encontrei na praia, mas algum outro dia eu aprofundo isso com você.
Eu vou ficando por aqui na torcida por você, meu querido
Então escreva quando puder e quiser!
Um grande beijo,
G.